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22 de julho de 2010

El laberinto del Fauno - Análise da Narrativa

“Se cuenta que hace mucho tiempo, en el reino subterráneo, donde no existe mentira o dolor, vivía una princesa que soñaba con el mundo de los humanos. Ella soñaba con el cielo azul, la brisa suave y el sol brillante."

Narrativa

O Labirinto do Fauno possui elementos fantasiosos, mas a história acontece num contexto político, durante a ditadura fascista de Francisco Franco na Espanha de 1944. Apesar de uma aparente incoerência, esses dois temas (a narrativa de um conto de fadas e a maturidade de um drama político) complementam-se. O franquismo mostra-se como a brutalidade que pretende vencer a imaginação, mas que por esta é derrotada. Na verdade, a fantasia, muitas vezes, parece ser capaz de mudar a realidade.

Além de seguir uma estrutura característica de uma narrativa, com um conjunto de transformações ao logo de uma progressão temporal, os elementos dos contos de fadas afloram no filme, configurando, assim, um intertexto. Há a presença de seres fantásticos, uma clara separação entre heróis e vilões, as provas designadas à heroína e as narrações inicial e final, muito características desse tipo de história. Em sua origem, os contos de fadas eram relatos orais que tratavam de profundos temores humanos. Num ambiente semelhante, o diretor mostra os embates entre a brutalidade e a inocência humanas.

Personagens

Ofelia



Ofelia é a heroína e a protagonista da história. Diante da crueldade de seu padrasto, o Capitão Vidal, e da gravidez de risco pela qual passa sua mãe, é apenas nas histórias criadas por sua imaginação que ela encontra uma forma de enfrentar os horrores da realidade. Seu destino final mostra o poder da fantasia e da inocência contra as atrocidades que o ser humano é capaz de fazer.
Ao longo da história, a menina descobre que ela é, na verdade, a princesa Moanna de um reino mágico e subterrâneo. Então, ela é encarregada de realizar três tarefas. Essas provas são uma forma de mostrar sua qualificação como heroína. De acordo com Greimas, “segundo as previsões fornecidas pelo modelo narrativo, a seqüência que se intercala entre a partida do herói e a defrontação da prova principal é destinada a qualificar o herói, isto é, a acrescentar-lhe qualidades das quais estava desprovido e que o tornarão capaz de superar a prova" (em Ánalise estrutural da narrativa)

Capitán Vidal

O estado ditatorial fascista é personificado no personagem do Capitão Vidal. Ele tem sua ideologia baseada na violência e no egocentrismo. Ao longo da história, Ofelia se depara com alguns seres monstruosos, mas Vidal continua como o grande vilão e a figura maléfica do filme.

Fauno


O fauno é uma figura mitológica que vive nas florestas ao lado das fadas e ninfas. No decorrer do tempo, sua imagem foi vinculada com a cultura pagã.
Ao contrapor o mundo mágico do Fauno, onde imperava a bondade e a justiça, a um mundo real injusto, o diretor critica a hipocrisia do regime de Franco, que se apoiava na Igreja católica para legitimar seu governo. No filme, os guerrilheiros contrários ao regime fascista se escondiam na floresta, então estavam simbolicamente protegidos pelo Fauno. É também o Fauno que possibilita a passagem de Ofelia do mundo dos homens para o mundo subterrâneo.

Mercedes

Mercedes faz o papel de uma agente dupla. Ela faz parte da resistência ao regime franquista e é uma das criadas do Capitão Vidal. Com seu emprego, ela ajuda o grupo guerrilheiro em seus combates contra os militares, pois consegue informações de dentro do quartel-general. Ela é tanto uma adjuvante para os rebeldes, como para Ofelia, quem ela sempre tenta proteger.

Tempo e espaço

A história é constituída por duas linhas narrativas paralelas e contrastantes em tempo e espaço. Ainda assim, é possível observar muitas relações entre o mundo dos humanos e o mundo mágico e subterrâneo. Mesmo que Ofelia seja o único elo que liga os dois universos, uma ação em um dos mundos influencia o outro. A imaginação de Ofelia cria uma fantasia influenciada pela realidade na qual vive.
Um exemplo forte dessas relações são as provas realizadas por Ofelia em seu mundo fantasioso e os embates entre o grupo armado rebelde e os militares fascistas comandados por Vidal. Os rebeldes também passam por três provas ao longo da história. Assim como Ofelia tem um combate final contra Vidal, os rebeldes tem uma luta final contra os militares.
Carmen, a mãe de Ofelia, passava por uma gravidez de risco. Então, o Fauno deu à Ofelia uma mandrágora mágica, com o poder de curar sua mãe. O médico, que é um agente duplo, procura sempre curar os rebeldes feridos nos combates. No mesmo dia, Vidal impede a função curativa da mandrágora e mata o médico, pois descobre a verdade sobre ele.
Há também muitas relações entre a gravidez de Carmen e o mundo fantasioso. Quando o Livro das Encruzilhadas mostra sangue em suas páginas, Ofelia vê sua mãe sangrando. Carmen quase perde o filho, mas sua saúde melhora quando Ofelia usa a mandrágora mágica. Depois que a mandrágora morre, Carmen morre no parto.
Essas semelhanças permeiam toda a história. No entanto, em seu desfecho, Ofelia não consegue vencer o ódio de Vidal no mundo real, mas torna-se a princesa do mundo subterrâneo.
Apesar de semelhanças narrativas, os dois mundos possuem muitas diferenças visuais. O mundo real é cinzento, chuvoso e sem vida. Já o imaginário, mesmo em situações sombrias, possui muito mais vida, brilho e cores, repleto de toques surrealistas.

A jornada do herói

Propp: as funções

Vladimir Propp analisou a narrativa dos contos populares russos de sua época, reunidos sob o nome de contos maravilhosos. Segundo Barthes no livro Análise estrutural da narrativa, “sem chegar a retirar os personagens da análise, Propp reduziu-os a uma tipologia simples fundada não sobre a psicologia, mas sobre a unidade das ações que a narrativa lhes atribuiu (Doador de objeto mágico, Ajuda, Mau etc.)”. Essas ações foram divididas em 31 funções presentes em grande parte das narrativas. A seguir, uma análise de O Labirinto do Fauno a partir da maioria dessas funções.
  • Afastamento: a princesa Moanna do reino subterrâneo parte para o mundo dos homens. Ofelia sai de sua casa na cidade e vai para o interior da Espanha, onde está o quartel-general do Capitão Vidal, seu padrasto.
  • Proibição: Ofelia não pode entrar no labirinto de pedra próximo ao moinho, aventurar-se pelo bosque ou desobedecer o Capitão. 
  • Transgressão: ela entra no labirinto à noite, guiada pela fada. E desobedece o Capitão várias vezes.  
  • Interrogatório: quando Ofelia entra no labirinto e encontra o Fauno, ela lhe faz muitas perguntas.
  • Informação: Ofelia descobre que ela é a princesa Moanna, filha do rei do mundo subterrâneo, e que não pertence ao mundo dos humanos. Mas precisa ser testada antes de poder voltar ao seu reino. 
  • Ardil-fraude: Vidal tenta mostrar-se bom e gentil, finge gostar de Carmen e de Ofélia, quando, na verdade, só está interessado em ter um filho homem. Ele se disfarça para tentar ganhar confiança.
  • Dano/Carência: a princesa Moanna fugiu de seu reino. Ela deve voltar para o mundo subterrâneo para voltar a ser princesa.
  • Mediação: o Fauno anuncia que para Ofelia tornar-se princesa é preciso saber se ela não perdeu sua essência em meio aos humanos. Então, ela terá que passar por três provas, antes que apareça a lua cheia.
  • Decisão do herói: Ofelia aceita realizar as três provas. Então, recebe do Fauno o Livro das Encruzilhadas.
  • Partida: para cumprir a primeira prova, Ofelia vai até a velha árvore no bosque. Para a segunda prova, ela entra na passagem que se formou com o giz mágico. Para a terceira, Ofelia vai ao quarto de Vidal e ao labirinto.
  • Designação de prova: o Livro designa as três provas. Primeiro, ele explica que a velha árvore era um símbolo da época na qual os animais, os homens e as criaturas mágicas viviam em harmonia. No entanto, ela estava morrendo por causa de um enorme sapo embaixo dela. Para que a árvore voltasse a crescer, Ofelia deveria colocar três pedras mágicas na boca do sapo e recuperar a chave dourada. Para realizar a segunda prova, Ofelia deveria usar o giz para abrir uma passagem em seu quarto, deixar-se guiar pelas fadas, voltar antes que o tempo da ampulheta acabasse e não comer nada durante a prova. A terceira prova seria levar seu irmão recém-nascido ao labirinto.
  • Enfrentamento de prova: Ofelia enfrenta as três provas. A primeira foi cumprida inteiramente. Na segunda, ela consegue pegar o punhal, mas desobedece as instruções ao comer uma uva, o que fez com que o homem pálido a perseguisse e comesse duas fadas. Na terceira prova, Ofelia enfrenta Vidal e leva seu irmão ao labirinto, mas decide não entregá-lo ao Fauno.
  • Adjuvantes: Ofelia recebe vários objetos que ajudam-na a realizar as provas (o Livro das Encruzilhadas, as três pedras mágicas, a chave dourada, o giz mágico). Há também a ajuda de alguns personagens, como o Fauno, as fadas e a Mercedes.
  • Estigma: Ofelia tem uma marca em forma de meia-lua no ombro, que mostra que ela pertence ao mundo subterrâneo.
  • Incógnito: Ofelia sempre esconde tudo o que tenha relação com o mundo subterrâneo. Ela mantém as provas em segredo.
  • Deslocamento: a abertura na parte inferior da velha árvore é uma passagem para o outro mundo. O giz mágico abre passagens. O fim do labirinto é o portal para o mundo subterrâneo.
  • Combate: ao ver Ofelia fugindo com o bebê, Vidal persegue-a até o fim do labirinto.
  • Vitória: Vidal mata Ofelia, mas sua morte a faz voltar ao reino subterrâneo.
  • Reparação: Ofelia volta ao seu reino, onde é a princesa Moanna.
  • Retorno: Ofelia regressa ao seu reino, depois de muito tempo no mundo dos homens.

  • Tarefa difícil: o Fauno diz que para Ofelia regressar ao reino, seu irmão deve morrer. Só assim o portal seria aberto.

  • Solução difícil: Ofelia desobedece o Fauno e diz que abdica seu reino pela vida de seu irmão.

  • Revelação do herói: o pai de Ofelia diz que ao derramar seu próprio sangue ao invés do sangue de um inocente, ela mostrou-se ser uma verdadeira heroína

  • Transfiguração do herói: Ofelia volta a ser a princesa Moanna.

  • Castigo: Vidal é morto pelo grupo rebelde.

  • Casamento: a harmonia no reino subterrâneo é restaurada.
Greimas: o esquema actancial mítico

O lingüista Greimas também realizou estudos sobre a narrativa e criou, assim, o esquema actancial mítico. Em Análise estrutural da narrativa, Barthes afirmou que “Greimas propôs descrever e classificar os personagens da narrativa, não segundo o que são, mas segundo o que fazem (donde seu nome de actantes), (...) o mundo infinito dos personagens é ele também submetido a uma estrutura paradigmática (Sujeito/Objeto, Doador/Destinatário, Adjuvante/Oponente), projetada ao longo da narrativa”. Segundo o modelo de Greimas, o filme pode ser analisado da seguinte forma:
  • Sujeito: Ofelia
  • Objeto: voltar a ser princesa e regressar ao reino subterrâneo.
  • Destinador: Fauno
  • Destinatário: mundo subterrâneo.
  • Adjuvantes: alguns personagens (fadas e Mercedes) e alguns objetos (Livro das Encruzilhadas – que mostra o futuro e o que Ofelia deve fazer a seguir –, três pedras mágicas – usadas na primeira prova –, giz mágico e chave dourada – usados na segunda prova –, mandrágora mágica – usada para curar sua mãe).
  • Oponente: Capitão Vidal.
É importante observar que o Destinador é a autoridade que encarrega o herói de alguma missão, determina os valores em jogo e sustenta o Objeto como algo desejável e necessário.


Esta excelente análise foi encontrada no site Jorwiki, para visualizar sua versão original, com mais fotos do filme e suas referências, clique aqui

Natassia

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