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30 de outubro de 2011

Literatura portuguesa atual

Inês Pedrosa


A portuguesa Inês Pedrosa é uma autora bastante conhecida no Brasil, cujos romances "Fica Comigo Esta Noite" (2007, Planeta do Brasil) e "Fazes-me Falta" (2003, Planeta do Brasil) tiveram relativo destaque no país. Justificado sucesso: seu feminismo, sem carregar nenhuma bandeira, é sutil, presente tão somente no universo das personagens ou nas frágeis camadas de sua estrutura narrativa.


Sua escrita, e mesmo seu horizonte temático, é versátil, talvez graças à sua experiência como tradutora e diretora da revista "Marie Claire", de Portugal, isso entre 1993 e 1996 (é atualmente colunista do semanal "Expresso", um dos maiores jornais portugueses).

Seu livro mais recente, "A Eternidade e o Desejo" (2008, Alfaguara), confirma a versatilidade da autora. Trata-se de um romance ambientado em Salvador em que ritos e tradições da cultura brasileira, como o candomblé, surgem para orientar o leitor em uma busca pelo amor.

O estado de cegueira da protagonista, diferente do célebre "Ensaio sobre a Cegueira" (1995, Cia. das Letras) de seu compatriota José Saramago, funciona como porta de entrada para a redescoberta do sentimento amoroso. Em Saramago, a deficiência problematiza toda uma ordem de relações humanas.

Também contista, Inês Pedrosa busca nos desencontros mais cotidianos a inspiração para seus recortes de fôlego menor. Como uma fotografia de cada movimento das personagens, o instante ganha a potência de uma vida, apenas sombreada nas feições, nas palavras e nas entrelinhas de suas histórias.

"Fica Comigo Esta Noite" é um exemplo representativo da ficção da autora, onde cada movimento em falso das personagens não é simplesmente desvio arbitrário nas mãos de um ardiloso narrador, mas sim reflexo do conflitante livre-arbítrio que parece guiar cada personagem, cada decisão. Mais do que tratar da solidão, a narradora busca encontrar, em uma análise às avessas, as causas desse estado para então sugerir possíveis saídas, sempre pelo viés amoroso.

Solidão e amor, um dos contrapontos mais dolorosos da história da literatura, funcionam como instrumento em sua obra, não como objetos, temas ou motivos. Invertendo-se a equação, ou seja, sobrepondo o sentimento à resolução de seu próprio conflito, a autora cria uma trama que puxa o leitor mais pela bem amarrada linguagem do que pela mera tematização amorosa. A linguagem antecede o amor, e não este dá origem à expressão.

Por conta desse feminismo sem bandeira e dessa versatilidade, a mesa 5, intitulada "Sexo, Mentiras e Videotape", da qual Inês Pedrosa fará parte, dialogando com a inglesa Zoë Heller e com a brasileira Cíntia Moscovich, outras expoentes da literatura feminina, tem tudo para atrair boa parte do público da Flip, ao unir três gerações diferentes de mulheres discutindo e reexaminando a própria intimidade.

Fonte: Folha ilustrada


José Saramago

José de Sousa Saramago nasceu numa família de camponeses da Aldeia de Azinhaga, ao sul de Portugal, em 1922. Seus pais eram analfabetos. Sua origem influenciou o modo de escrever, caracterizado pela liberdade no uso da pontuação. "Meu estilo começou em 1979, quando eu estava escrevendo Levantado do Chão. O mundo que eu descrevia era o Portugal rural, durante os primeiros dois terços do século passado - um mundo no qual a cultura de contar histórias predominava, e eram passadas de geração a geração, sem que se usasse a palavra escrita", disse o escritor ao jornalista australiano Ben Naparstek, lembrando que, quando se fala, não se usa pontuação. A entrevista foi incluída no livro Encontros com 40 Grandes Autores.



Com um estilo próprio, Saramago conquistou em 1983 o Prêmio Camões, a mais importante distinção dada a um escritor em língua portuguesa - recebida neste ano pelo poeta Ferreira Gullar - e, em 1998, o Prêmio Nobel de Literatura.


Levantado do Chão é um dos livros que mais falam de Saramago. Ao mostrar a luta do povo contra a opressão dos latifundiários e das autoridades oficiais e clericais, o romance faz ecoar a opção política do escritor, que se dizia socialista até o fim da vida. Considerado hoje o seu primeiro grande romance, Levantado do Chão também merece destaque por ter dado notoriedade a Saramago, que por ele recebeu o Prêmio Cidade de Lisboa, em 1980, e o Prêmio Internacional Ennio Flaiano em 1982.


Sua atividade como escritor, no entanto, havia começado muito antes, em 1947, com o livro Terra do Pecado. Após um hiato de 19 anos, lança, em 1966, Os Poemas Possíveis, seu primeiro livro de poesia. Três anos depois, se tornaria membro do Partido Comunista Português. Atuando como crítico literário e jornalista, em 1975, chegaria à direção-adjunta do Diário de Notícias. Mas, já no ano seguinte, fugindo à opressão do Salazarismo, regime totalitário que dominava Portugal, passaria a viver de literatura. Num primeiro momento, como tradutor. Em seguida, como autor.


Depois de Levantado do Chão, chamaria a atenção com os romances O Ano da Morte de Ricardo Reis (1984), A Jangada de Pedra (1986) e O Evangelho Segundo Jesus Cristo (1991), cuja inspiração lhe veio de um golpe de vista. Andando pela rua, o escritor acreditou ter lido, na manchete de um jornal, aquele que viria a ser o título da obra, e a partir daí nasceu a ideia de contar o Novo Testamento pela visão de Jesus Cristo, e não mais de um de seus apóstolos.


Foi por este livro que Saramago deixoiu Portugal, no início da década de 1992. A inscrição de O Evangelho Segundo Jesus Cristo para o Prêmio Literário Europeu, em 1992, foi vetada pela Secretaria de Cultura portuguesa. As vendas dispararam, mas, aborrecido, o escritor mudou-se para Lanzarote, nas Ilhas Canárias.


Sobre Levantado do Chão, outra curiosidade: o título foi tomado de empréstimo pelo compositor Chico Buarque, que participou juntamente com Saramago e o fotógrafo Sebastião Salgado de um projeto relacionado ao Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST). "Como então? Desgarrados da terra? Como assim? Levantados do Chão?", diz a letra da canção Levantados do Chão.


O Ensaio Sobre a Cegueira (1995) é outro destaque da obra de Saramago. O livro foi adaptado para o cinema em 2008 pelo brasileiro Fernando Meirelles, segundo quem Saramago não gostava de falar de literatura. Para ele, haveria assuntos mais importantes a discutir. Casado com a jornalista espanhola Pilar del Rio, Saramago deixa uma filha e dois netos do primeiro casamento.


Algumas das principais obras de Saramago:


Levantado do Chão (1980)
Memorial do Convento (1982)
O Ano da Morte de Ricardo Reis (1984)
História do Cerco de Lisboa (1989)
O Evangelho segundo Jesus Cristo (1991)
Ensaio sobre a Cegueira (1995)
As Intermitências da Morte (2005)

Fonte: Veja - Celebridades


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